domingo, 25 de agosto de 2013

Inquietudes

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da catinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos

Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado...

Lamento Sertanejo - Dominguinhos

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Meu peso sem nome


Tu, pessoa nefasta
Vê se afasta teu mal
Teu astral que se arrasta tão baixo no chão
Tu, pessoa nefasta
Tens a aura da besta
Essa alma bissexta, essa cara de cão


Reza
Chama pelo teu guia
Ganha fé, sai a pé, vai até a Bahia
Cai aos pés do Senhor do Bonfim
Dobra
Teus joelhos cem vezes
Faz as pazes com os deuses
Carrega contigo uma figa de puro marfim
Pede
Que te façam propícia
Que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia
A polícia de cima de ti
Basta
Ver-te em teu mundo interno
Pra sacar teu inferno
Teu inferno é aqui


Pessoa nefasta


Tu, pessoa nefasta
Gasta um dia da vida
Tratando a ferida do teu coração
Tu, pessoa nefasta
Faz o espírito obeso
Correr, perder peso, curar, ficar são


Solta
Com a alma no espaço
Vagarás, vagarás, te tornarás bagaço
Pedaço de tábua no mar
Dia
 Dia após dia boiando
Acabarás perdendo a ansiedade, a saudade
A vontade de ser e de estar
Livre
Das dentadas do mundo
Já não terás, no fundo, desejo profundo
Por nada que não seja bom
Não mais
Que um pedaço de tábua
A boiar sobre as águas
Sem destino nenhum


(Pessoa Nefasta - Gilberto Gil)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Precisa?


Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto — e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever te­nho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras — quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

C. Lispector (Um Sopro de Vida)

sábado, 1 de outubro de 2011

O Valioso Tempo dos Maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. 
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas... As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!


Ricardo Gondim

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Perdidas na selva de pedra

Eu quero um colo, um berço
Um braço quente
Em torno ao meu pescoço
E uma voz que cante baixo
E pareça querer me fazer chorar
Eu quero um calor no inverno
Um extravio morno da minha consciência
E depois em som
Um sonho calmo
Um espaço enorme
Como a lua rodando entre as estrelas 

Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A sort of fairy tale

Dor não se mede. E passei um bom tempo com a minha em níveis aflitos. Vou me casar este prazer e, vez ou outra, com a libertinagem também - agora que posso tê-los.
A única coisa desagradável é que a inspiração advinda da alegria ainda me é estrangeira. Mas não por muito tempo...

"Apesar de todos os medos, escolho a ousadia.
Apesar dos ferros, construo a dura realidade.
Prefiro a loucura à realidade, 
e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança.
Eu sou assim, pelo menos assim quero me imaginar: 
a que explode o ponto e arqueia a linha, 
e traça o contorno que ela mesma há de romper.
Desculpem, mas preciso lhes dizer: Eu quero o delírio."
Lya Luft


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. 
Fui ser feliz, e não volto.

Caio Fernando Abreu